COBERTURA EDUCOMUNICATIVA
- JOVENS COMUNICADORES DA AMAZÔNIA -
Jovens
Comunicadores da Amazônia entrevistam João José Sana, atual membro do Comitê
Estadual para a Prevenção de Erradicação da Tortura do Estado do Espírito Santo
e tutor do Curso de Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça da
Universidade Federal do Espírito Santo. Sana foi o facilitador da sessão sobre
Gestão da Política Pública de Segurança com ênfase da gestão local do Curso de
Convivência de Segurança Cidadã. Em entrevista, o especialista fala sobre
gestão de políticas locais, violência juvenil e experiências de comunicação
popular.
Confira!
Cobertura:
É pertinente a discussão sobre a gestão local da segurança?
João: Considero
extremamente importante que a gente discuta segurança nos municípios e nas
gestões locais. As pessoas moram no
Brasil e em um Estado. Mas os conceitos de Nação e Estado são muito abstratos. O município não, ele é concreto. É nesse município que as coisas acontecem. Você reconhece quem é o prefeito, o vereador,
os secretários. Você sofre influência direta das políticas públicas aplicadas no
município. Portanto, é extremamente pertinente que esse município se envolva na licitação
de políticas públicas para a segurança, não de forma isolada, mas de forma articulada com o Estado e com o Governo Federal.
Cobertura:
Os municípios podem contribuir com a solução dos problemas relacionados à
complexa questão da segurança?
João: A
segurança é um fenômeno causal e uma complexa questão. Os municípios podem
contribuir tanto na dimensão da prevenção à violência quanto na dimensão do controle.
Prevenção porque você vê políticas públicas de educação, de assistência social e de
saúde que são políticas veementemente do campo do cuidado. E do controle porque
você tem fiscalização sanitária, posturas municipais e dos agentes de segurança. O que é preciso, então, é articular ações de prevenção e ações de controle e articular as ações em âmbito municipal, estadual e federal.
Cobertura: Considerando
os altos índices de violência contra adolescentes e jovens negros moradores de
periferias das grandes capitais, quais os caminhos efetivos que a sociedade pode seguir para enfrentar esse problema? E como os/as jovens podem participar
para contribuir com o enfrentamento à violência?
João: Primeiramente, nós precisamos desconstruir os
preconceitos que nós temos. O preconceito contra a mulher, o negro, os
indígenas, os homossexuais e transgêneros. Nós somos uma sociedade preconceituosa. Investir
na desconstrução do preconceito é um desafio enorme. Quantas vezes escutamos: o jovem é atirado, o jovem é maluco. Não, o jovem é jovem! Por tanto, é importante que
existam os sonhos, porque são os jovens que fazem as coisas acontecerem. São eles que
movimentam as coisas. É importante ouvir o que o jovem tem a dizer, sem excluí-lo. Infelizmente,
nós temos pouquíssimos canais de escuta. Nem todos os estados tem um Conselho
Estadual de Juventude e, quando tem, eles são fracos. Então, o desafio é
construir boas estruturas que garantam espaço de participação nos governos
municipais podendo ter gerência de juventude e os governos estaduais podem ter
estruturas que pensem políticas públicas direcionadas aos jovens. Acertadamente, o governo
federal criou uma secretaria de juventude deliberando até uma conferência de
juventude. Mas isso só aconteceu pela organização da juventude, que garantiu a
mobilização e pressionou o governo a
vencer suas burocracias para atender as demandas dessas juventudes.
Cobertura:
O que você percebe sobre os vários projetos existentes na área da prevenção e
segurança pública no Brasil? Há uma mudança? Há uma transformação local?
João: Eu não conheço
muitos programas. Conheço algumas pequenas experiências de diálogo entre jovens e agentes de segurança. Tive uma boa impressão
do “Fica Vivo” de Belo Horizonte/MG e tem outra no Rio de Janeiro que é o “Papo
de responsa” envolvendo policias civis e estudantes de escolas públicas. Essa relação de jovem e policia é sempre muito limitada. Quando ambas as partes aceitam sentar para conversar, as possibilidades de mudanças aparecem. Quem é que não tem uma limitação na vida? Agora, o
que importa é aonde queremos chegar! Eu quero ser menos machista, por exemplo. O jovem vive um ensaio de acertos e erros. Essa é a essência
da vida. O erro faz parte do processo de conquista. Por isso, criar a possibilidade de diálogo é fundamental.
Cobertura:
O que você pensa sobre a necessidade de uma reforma política?
João: Eu
defendo a reforma política! E convido a todos a participarem do plebiscito que
as entidades irão realizar no próximo dia 7 de Setembro incluindo Belém e o
restante do Brasil. É um plebiscito popular mostrando a insatisfação com o
destino da política no Brasil da forma do financiamento público de campanhas,
do comportamento dos políticos. É muito importante que nós participemos para
pensar uma política em um eixo de interesse de bem comum. Não é uma política
para pensar interesses individuais, é uma política para cuidar das pessoas. Hoje em dia temos
as políticas afirmativas, temos cotas nas universidades, cotas raciais. Temos
que pensar políticas afirmativas que garantam acesso à juventude na
universidade, ao mercado de trabalho, ao lazer, cultura... Pensar a reforma
política significa pensar outra sociedade para o País.
Cobertura:
Qual é a importância que você vê na formação alternativa de adolescentes e
jovens na área da comunicação?
João:
Eu
tenho pouca experiência nessa área. Mas, cito um exemplo do Programa Conjunto,
desenvolvido por seis agências do sistema ONU, tendo o PNUD como agência-líder.
Estávamos com muitas dificuldades em divulgar as atividades. Junto com a equipe
do PNUD, decidimos criar uma atividade de comunicação com jovens. Assim, foi
criada a “Comissão Puxa Aí”. A partir do uso da linguagem do blog,
das mídias alternativas e das redes sociais, os jovens puderam se comunicar e criar uma
rede de comunicação onde os jovens podiam falar sobre o território de São Pedro, onde moravam. Assim, um local que era visto como espaço de miséria passou a ser visto como lugar de riqueza, de projetos, dos jovens, das ações
coletivas. A experiência de vocês aqui no Pará, por exemplo, os Jovens Comunicadores da Amazônia, é muito importante. A partir do lugar de vocês, podem se comunicar com o mundo, e comunicar para o mundo as suas especificidades.
Roteiro: Jorge Anderson e Sidney Silva
Fotos: Jorge Anderson
Nenhum comentário:
Postar um comentário